Pai e mãe, no menino dos olhos verdes

Cheguei chegando!
- Posso bater fotos das tuas tatuagens? Você é meu personagem sabia?
- Como?
Não sei como eu reagiria numa situação destas! Talvez, não tenha o espírito de ser personagem de alguém! Meu real já é caricato mais que dois suficientes. Provavelmente não aconteceria comigo. Porém, sou perita em colocar pessoas nessas situações! E, lá estava eu, clicando dois braços pesados, suados, tatuados e por mim esperados!
- O que foi que você disse, menina?
- Eu? Ei, vc aí (no maior espírito de carnaval) pode bater uma foto nossa aqui? – perguntei ao primeiro índio (ou, fantasiado como tal) que passou por ali.
Click! Pronto. Ele me olhava. Eu olhava.
- Sabioqueé!? – dizia eu, segurando minhas duas tranças (ah vai! Eu também era índia!), alterando ainda mais meu jeito infantil de balzaca destemporal - Eu escrevi um texto falando sobre os teus olhos, mas não tem nada a ver não! Com o maior respeito. Fiz de você personagem meu.
Ele me olhava, olhos pesados como do ritmista que não sabe ler partitura, mas que faz música.
- Posso ver o texto?
- Não o tenho aqui, não. Mas, nem é lá essas coisas! Só escrevi porque fiquei impressionada com os teus olhos e tuas tatuagens no dia do ensaio lá na quadra.
- Quero ver o texto! Deixa?
Pensei, em dizer httttttttttttppppppp wwwwww ponto com ..., mas neeeeeeeeem! Já estava derretida em gostas de suor, caindo como confete, e fugindo como serpentina.
- Olha só, no texto eu disse que vc era pescador. Vc é pescador?
- Não, não sou pescador. Mas, queria muito ver o que foi vc escreveu sobre mim.
Pode não ser pescador, mas está na net.
Desconversando total, emendo:
- Pensei que vc fosse pescador por causa das tatuagens: Iemanjá e São Jorge. Muito forte!
Ele olha para os braços, e dá uma fisgada muito sério:
- Não, eu sou umbandista, minhas tatuagens são meu pai e minha mãe.
Empalideço. Emudeço. Estremeço.
Olhos verdes apenas segura no meu ombro, não me deixando cair e diz:
- Deixa ler o texto?
Segura pelos ombros, entre o manto de Iemanjá e a armadura de São Jorge, só consigo perguntar:
- Como é seu nome?
- Juliano
- Eu mando o texto pra você, pelo mestre da bateria. Tá legal?
- Obrigado, menina!
Depois disso, atravessei o mar da avenida.
Minha escola é campeã. E eu mais que professora!
Impressão: o texto foi só pra ele, e na mesma caligrafia, o surdo retumbou só pra mim na passarela.
Juliano. Pai e Mãe.